Record perde ao não trazer de volta o “Show do Tom”

Publicado em 07/08/2025, às 19h58 – Por Junior Martins | O Diário de Notícias
O humor brasileiro vive um momento curioso: enquanto plataformas de streaming e redes sociais investem em formatos rápidos, leves e facilmente compartilháveis, a TV aberta parece ter esquecido como explorar o riso de forma consistente. Nesse cenário, a Record mantém no arquivo um de seus programas mais bem-sucedidos e populares, o Show do Tom, e ignora o potencial que o formato teria em 2025. No auge, o programa comandado por Tom Cavalcante não era apenas um veículo para piadas. Era um laboratório criativo que misturava imitações impecáveis, sátiras inteligentes e esquetes que dialogavam diretamente com a cultura e o cotidiano do brasileiro. A cada semana, entregava um humor acessível, mas sem ser raso, com quadros que entraram para a memória afetiva da audiência. Tom Cavalcante, com sua habilidade em transitar entre personagens e personalidades, conseguia falar com todas as faixas etárias, unindo famílias diante da televisão — algo raro e valioso no atual panorama midiático. O Show do Tom também tinha uma característica que hoje é ouro na indústria do entretenimento: a capacidade de gerar repercussão espontânea, seja em conversas informais, seja em recortes que facilmente se encaixariam nas redes sociais. Ao não apostar em uma retomada, a Record perde duplamente. Primeiro, deixa escapar a chance de surfar na onda da nostalgia — recurso que outras emissoras e produtoras têm usado com sucesso para reconquistar e fidelizar o público. Segundo, abre mão de um formato com DNA próprio, que poderia ser atualizado para dialogar com a realidade atual, sem perder a essência. Enquanto outras redes entendem o valor de revisitar seus maiores acertos, a Record opta por deixar um de seus maiores trunfos no silêncio. É como se a emissora tivesse um tesouro guardado no cofre, mas preferisse mantê-lo escondido, em vez de mostrá-lo ao público que ajudou a construí-lo. No jogo da televisão, não reconhecer o peso da própria história é correr o risco de perder não só a relevância, mas também a conexão com quem, no passado, sintonizou por escolha e afeto.

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